O MAGO -Parte III
Um dia de tarde resolvi ir passear na praia. O vaivém da maré e sol a pôr-se com certeza que me iriam animar. Caminhei por quase uma hora, sentindo a areia molhada nos meus pés e aspirando a brisa salgada. Já não tinha a certeza de nada. Serias real?
Toda a minha vida me veio ao pensamento; realmente nunca batalhara pela minha vontade mas sim pela vontade dos outros. Só ali percebera o quanto influenciável era… Jamais tinha trilhado o meu caminho. Parece que chegara o momento para tomar as rédeas daquilo que era exclusivamente meu: a minha vida, o meu Destino…
Lembro-me dos reflexos vermelhos do sol a pôr-se, o mar parecia em chamas.
Deitei-me na areia ainda quente do dia de Verão que estava a terminar… Perdida nos pensamentos, adormeci. De modo profundo.
Acordei passado não sei quanto tempo… Já era noite escura e a lua brilhava no alto do céu negro, reflectindo-se vaidosa na água do mar… Só então me apercebi que estava coberta por um casaco negro. Antes que pudesse ter qualquer tipo de reacção vejo-te sentado calmamente ao meu lado, admirando a calmaria da Noite… De um salto levantei-me, deixando cair o casaco na areia.
- Quem és tu? O que fazes aqui?
Lentamente viraste o teu rosto para mim e pela primeiríssima vez pude ver as tuas feições. Logo me pareceram familiares… O rosto oval bem vincado, a boca pequena mas cheia, a pele alva, o cabelo ondulado revolto e os olhos verdes que brilhavam como nunca tinha visto. Sim, já te conhecia. A chama em mim incendiou-se, alastrando-se ao meu peito, a todo o meu ser!
- És muito mais bonita do que me tinha apercebido…
- Quem és tu?!
Tu caminhavas para mim e com medo recuei, mas não conseguia desprender-me dos teus olhos. A minha alma pairava nessa imensidão de verde líquido.
Com delicadeza pegaste-me na mão esquerda e com o teu dedo indicador passaste sobre as linhas da mão. O teu toque parecia queimar-me, quis retirar a mão mas seguraste-a firmemente.
- Não tenhas medo, não te vou magoar. Apenas tínhamos que nos encontrar.
A tua voz soou grave e profunda. Eu parecia estar num sonho.
- Encontrar? Mas quem és tu? Como me descobriste aqui?
Não esmoreceste perante a minha desconfiança. Ficaste ainda mais seguro de ti.
- Procurei-te em todas as minhas existências, durante eras e eras.A minha alma evoca a tua há muito, muito tempo. Estudei todos os mapas, todos os sinais… Soube esperar. Até ter a certeza que eras tu, que era por ti que vinha de novo aqui. És a parte que me falta.
Fiquei assustada, puxei a mão e virei-lhe as costas. Desatei a correr, assustada, quem seria ele? O que queria de mim, que conversa era aquela. Num ápice alcançou-me e segurou-me firme pelo braço.
- Sabes que não precisas de fugir. Saberei sempre onde tu estás, assim como tu saberás sempre o meu paradeiro. Há muito tempo que zelo pelos teus passos e velo pelas tuas noites. Nunca deixei que nada te acontecesse, mesmo tendo que suportar ver-te influenciada por aquela gente. Vim para te dar a conhecer o teu verdadeiro destino. Ariana, és minha…
Um sussuro levou-me para longe dali… Parecia estar a pairar no ar, leve, levitando ente o espaço e o tempo. De repente o meu corpo estremeceu… Abri os olhos sobressaltada. Estava deitada em frente ao mar, a noite estava escura e uma brisa fria arrepiou-me. Apertei a roupa contra o meu corpo. Só então reparei que tinha um casaco negro vestido…