Em todos os teus momentos tristes, era comigo que vinhas ter.
A qualquer altura, no meio de um dia agitado de trabalho ou durante uma noite de descanso.
Ao longo de todos estes anos, a nossa amizade foi o teu bálsamo. A mim, reconfortava-me saber que era eu que te limpava as lágrimas, que lutava contra os teus medos e que te dava a mão quando caminhavas por cima do abismo. Algo se acendia em mim por saber que era eu que te aconchegava a cabeça no meu colo, te acariciava os cabelos e acalmava as dores da alma e o cansaço físico. Nesses instantes, éramos um só, a tua dor tornava-se minha e, com ternura, destruía-a. E, claro, sorrias de novo. E eu amparava os teus sorrisos. Depois, partias, até que, novamente, o abismo se abrisse sob os teus pés... Aí corrias outra vez p'ra mim como se de uma criança assustada te tratasses.
A nossa amizade fora construída assim, e eu sempre aceitara, sem mesmo perceber o que sentia por ti. Eu seria sempre a cura para as tuas feridas, mas para mim o que serias tu?
Que seria eu para mim e para ti nos maus momentos da tua existência?
E porque nunca vinhas ter comigo quando tudo te corria bem e sob os teus pés tudo eram prados verdes?
Pois uma vez foi a mim que um abismo enorme e negro se abriu na minha vida.
Em cada instante parecia que me engolia mais e que desaparecia na escuridão.
Nessa madrugada, era a mim que a dor fustigava. Estava sózinha e lembrei-me de ti.
Atravessei ruas a pé na cidade só e nua da noite. Quando cheguei ao teu prédio, a luz da tua sala estava acesa e das janelas via-se a animação. Retraí-me. Mas já que ali estava...
Toquei à campaínha e a tua voz soou alegre pelo intercomunicador.
- "Sou eu..." - a minha voz nunca me parecera tão frágil...
- "Sobe!" - na voz dele havia determinação e surpresa, de certeza se interrogara sobre a minha presença ali.
Subi as escadas lentamente, e tu já me esperavas com a porta aberta.
Atrás dele, uma festa cheia de pessoas.
Não me disseste nada, pegaste-me na mão e levaste-me para o sótão da casa.
A lua cheia iluminava amplamente o espaço cheio de objectos esquecidos.
Acendeste uma vela.
Abraçaste-me e deitas-te a minha cabeça no teu colo.
Acariciaste-me o cabelo e limpaste todas as minhas lágrimas com devoção e carinho.
Acho que naquele momento ambos descobrimos o que, durante tantos anos, nos unira.
O que te fazia caminhar para os meus braços nos momentos difíceis e o que me fazia aconchegar-te no meu peito. Por isso, quando nos olhámos por longos minutos nos olhos um do outro, não foi preciso traduzir por palavras aquilo que sentíamos; há sentimentos que não carecem de palavras.
4 Comments:
Está perfeito...
Adorei este teu texto, nem sempre o amor existe entre um homem e uma mulher. Muitas vezes algo de mais belo existe entre um homem e uma mulher. Um amor platónico, algo que nunca termina, reconfortos de dores sofridas na alma.
Adorei...
Um beijo suave nos teus lábios.
Artur rebelo
Está perfeito...
Adorei este teu texto, nem sempre o amor existe entre um homem e uma mulher. Muitas vezes algo de mais belo existe entre um homem e uma mulher. Um amor platónico, algo que nunca termina, reconfortos de dores sofridas na alma.
Adorei...
Um beijo suave nos teus lábios.
Artur rebelo
Simplesmente adorei.
Como se escreve o silêncio em palavras.....?
O meu ultimo post também aborda o mesmo assunto,mas não com a qualidade que eu vi no teu texto.
está mt bonito, parabens*
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