segunda-feira, dezembro 20, 2004

Em todos os teus momentos tristes, era comigo que vinhas ter.
A qualquer altura, no meio de um dia agitado de trabalho ou durante uma noite de descanso.
Ao longo de todos estes anos, a nossa amizade foi o teu bálsamo. A mim, reconfortava-me saber que era eu que te limpava as lágrimas, que lutava contra os teus medos e que te dava a mão quando caminhavas por cima do abismo. Algo se acendia em mim por saber que era eu que te aconchegava a cabeça no meu colo, te acariciava os cabelos e acalmava as dores da alma e o cansaço físico. Nesses instantes, éramos um só, a tua dor tornava-se minha e, com ternura, destruía-a. E, claro, sorrias de novo. E eu amparava os teus sorrisos. Depois, partias, até que, novamente, o abismo se abrisse sob os teus pés... Aí corrias outra vez p'ra mim como se de uma criança assustada te tratasses.
A nossa amizade fora construída assim, e eu sempre aceitara, sem mesmo perceber o que sentia por ti. Eu seria sempre a cura para as tuas feridas, mas para mim o que serias tu?
Que seria eu para mim e para ti nos maus momentos da tua existência?
E porque nunca vinhas ter comigo quando tudo te corria bem e sob os teus pés tudo eram prados verdes?

Pois uma vez foi a mim que um abismo enorme e negro se abriu na minha vida.
Em cada instante parecia que me engolia mais e que desaparecia na escuridão.
Nessa madrugada, era a mim que a dor fustigava. Estava sózinha e lembrei-me de ti.
Atravessei ruas a pé na cidade só e nua da noite. Quando cheguei ao teu prédio, a luz da tua sala estava acesa e das janelas via-se a animação. Retraí-me. Mas já que ali estava...
Toquei à campaínha e a tua voz soou alegre pelo intercomunicador.
- "Sou eu..." - a minha voz nunca me parecera tão frágil...
- "Sobe!" - na voz dele havia determinação e surpresa, de certeza se interrogara sobre a minha presença ali.

Subi as escadas lentamente, e tu já me esperavas com a porta aberta.
Atrás dele, uma festa cheia de pessoas.
Não me disseste nada, pegaste-me na mão e levaste-me para o sótão da casa.
A lua cheia iluminava amplamente o espaço cheio de objectos esquecidos.
Acendeste uma vela.
Abraçaste-me e deitas-te a minha cabeça no teu colo.
Acariciaste-me o cabelo e limpaste todas as minhas lágrimas com devoção e carinho.
Acho que naquele momento ambos descobrimos o que, durante tantos anos, nos unira.
O que te fazia caminhar para os meus braços nos momentos difíceis e o que me fazia aconchegar-te no meu peito. Por isso, quando nos olhámos por longos minutos nos olhos um do outro, não foi preciso traduzir por palavras aquilo que sentíamos; há sentimentos que não carecem de palavras.

4 Comments:

Blogger Instantes Perdidos said...

Está perfeito...

Adorei este teu texto, nem sempre o amor existe entre um homem e uma mulher. Muitas vezes algo de mais belo existe entre um homem e uma mulher. Um amor platónico, algo que nunca termina, reconfortos de dores sofridas na alma.

Adorei...

Um beijo suave nos teus lábios.

Artur rebelo

12:52 da tarde  
Blogger Instantes Perdidos said...

Está perfeito...

Adorei este teu texto, nem sempre o amor existe entre um homem e uma mulher. Muitas vezes algo de mais belo existe entre um homem e uma mulher. Um amor platónico, algo que nunca termina, reconfortos de dores sofridas na alma.

Adorei...

Um beijo suave nos teus lábios.

Artur rebelo

12:52 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Simplesmente adorei.
Como se escreve o silêncio em palavras.....?
O meu ultimo post também aborda o mesmo assunto,mas não com a qualidade que eu vi no teu texto.

2:02 da manhã  
Blogger darkman said...

está mt bonito, parabens*

2:24 da tarde  

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