No Interior de Ti
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
Fernando Pessoa, 1934
Gostava tanto de saber de ti e da tua ciência.
Que segredos guarda a tua alma e o teu coração,
Quais as curvas negras e os prados alegres da tua existência?
Que sonhos albergas, qual a maior desilusão?
E lá no meio de ti, haverá algo de mim?
Como será o teu funcionamento?
Mecanismos sem razão
Ou
Um organizado coração?
E lá no meio, haverá algo de mim?
Procuro o teu manual de instrução
Quais as teclas a carregar
Quais os parafusos a desapertar
E as linhas de orientação!
Um mapa,
um mapa de ti!
E lá no meio, punha algo de mim!
Manejo-te como um instrumento
Quero guiar-te na produção
de sentimento
e emoção.
Desvendo a tua Razão
A linha do Pensamento,
Ordeno preferências
Comando as tuas experiências;
Exigo-te eficiência!
Agora já tenho o mapa de ti
Desvendado por mim
e assim
há algo de mim em ti!
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