domingo, setembro 12, 2004

No Interior de Ti

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.


Fernando Pessoa, 1934



Gostava tanto de saber de ti e da tua ciência.
Que segredos guarda a tua alma e o teu coração,
Quais as curvas negras e os prados alegres da tua existência?
Que sonhos albergas, qual a maior desilusão?

E lá no meio de ti, haverá algo de mim?

Como será o teu funcionamento?
Mecanismos sem razão
Ou
Um organizado coração?

E lá no meio, haverá algo de mim?

Procuro o teu manual de instrução
Quais as teclas a carregar
Quais os parafusos a desapertar
E as linhas de orientação!

Um mapa,
um mapa de ti!
E lá no meio, punha algo de mim!

Manejo-te como um instrumento
Quero guiar-te na produção
de sentimento
e emoção.

Desvendo a tua Razão
A linha do Pensamento,
Ordeno preferências
Comando as tuas experiências;
Exigo-te eficiência!

Agora já tenho o mapa de ti
Desvendado por mim
e assim
há algo de mim em ti!