domingo, julho 18, 2004

Ali deitados, o tempo parecia não passar.
O quarto estava inundado da luz pacífica de fim de tarde, que fazia brilhar o branco das paredes e dos lençóis.
No ar, pairava o cheiro a amor satisfeito, e o calor, ainda amolecia mais os corpos extenuados.
 
Ela estava deitada de bruços na beira da cama, o braço esquerdo pendido, imóvel, as pernas afastadas, e o pé direito enredilhado nos lençóis amachucados.
Sentia a dolência própria da satisfação e do prazer. O corpo e a alma vagueavam num limbo entre a paixão saciada e o cansaço físico. Na boca ainda tinha o sabor dele, na pele retinha o seu cheiro e na alma a certeza daquela paixão louca. Mas a cabeça continua sempre a pensar, os problemas não se atenuam com sexo louco e muito menos desaparecem. Ele ali estava, ainda. Deitado ao lado dela, com a mão na sua anca, fatigado do desejo satisfeito.
 
No fundo, ela desejava que aquele momento não terminasse nunca, assim ele estaria sempre ali.
Perto, ao alcance da mão. Mas em alguns momentos teriam que se levantar, vestir-se, encarar-se, despedir-se com o mesmo beijo insano, abraçar-se... Porque dali a pouco estariam no mesmo escritório, a trabalhar, como se nada fosse, cada um lutando profissionalmente as suas batalhas, cruzando-se por acaso no corredor ou na sala de reuniões e em que não poderiam trocar mais que um olhar intenso ou um beijo furtivo. Ao fim do dia, cada um voltaria para suas casas e na solidão dos quartos relembravam cada segundo de loucura, tocando-se para ver se na pele ainda restava algo do cheiro do outro ou procurando em algum canto secreto o sabor do outro.
 
Como que adivinhando os pensamentos dela, ele encostou-se, beijou-lhe os cabelos perfumados e acariciou-lhe a curva da anca... O dedo deslizava calmamente pela pele suave e ele cada vez mais embriagado pelo cheiro que dela emanava.
Ela virou-se e abraçou-o.
Mas não foi um abraço de paixão ou amor.
Foi um abraço de desespero.
De quem sabe que a paixão tem minutos contados e o prazer é explorado em tempo limite. Que um beijo nem sempre acalma o fogo e que a distância torna os abraços mais ardentes.
Ambos sabiam que nunca podiam passar daquela fronteira pois a vida não se compadece dos fracos apaixonados e que o sexo e o fervor não é tudo. Mas alivia a dor de não se poderem ter quando mais se desejam e menos podem.
 
Os corpos reclamavam um pelo o outro.
Mais uma vez; porque há paixões que não se satisfazem num acto...
E por mais uns momentos abandonaram-se àquela paixão doentia, ao fogo que os consumia e ao desejo sempre latente.
 
De novo os corpos dançaram, os beijos sôfregos e as mãos que agarravam o outro com a medo da fuga defintiva, o calor e o desejo, o extâse... Amaram-se, até que de novo fosse possível.
Se de novo fosse possível!
 
 

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sem comentários...

Amor pérfido e pagão.
Amor desmembrante do coração
rodeado e impestado de traição
Mas magnifico e verdadeiro de emoção.

11:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem comentários...

Amor pérfido e pagão.
Amor desmembrante do coração
rodeado e impestado de traição
Mas magnifico e verdadeiro de emoção.

Assin: Arthe

11:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem comentários...

Amor pérfido e pagão.
Amor desmembrante do coração
rodeado e impestado de traição
Mas magnifico e verdadeiro de emoção.

Assin: Arthe

11:26 da tarde  
Blogger A. Narciso said...

Excelente. Carregado de erotismo. Os meus parabéns

*A

2:12 da tarde  

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