segunda-feira, outubro 11, 2004

Ele esperava-a no fim da rua, como fazia todas as noites.
Mas aquela noite estava escura, não havia o brilho da Lua nem o calor das estrelas. Do céu começavam a cair pequenas gotas de chuva que, para breve, prometiam borrasca.
O vento assobiava nas esquinas, trazendo consigo os sons da cidade lá ao longe.
E ele encolhia-se com frio contra a parede do prédio.

Todas as noites esperava por ela ali, que saísse do trabalho e ,com a desculpa de ser tarde, de a acompanhar a casa. Mal ela desconfiava do tempo que ele ali ficava, dizendo depois que era por acaso, que até calhava em caminho. Mal sabia ela as horas que ali, na ansiedade de a ver cruzar a esquina e a vir ver ao seu encontro, ele aguardava; mal sabia ela que afinal aquele encontro não calhava nada em caminho e que demorava muito tempo a voltar a sua casa. Mas ela compensava isso tudo, e por isso ele enfrentava com alegria o cansativo regresso a casa e as horas de espera.

O vento transformou-se em vendaval.
A chuva em aguaceiro.

E enquanto tentava combater o frio, aquecia a alma com a recordação de como a tinha conhecido, da primeira vez que aspirou o cheiro dos seus cabelos e a luz dos seus olhos. Do primeiro sorriso e da primeira vez em que tocou as mãos dela. E de como ficou preso a ela.
A partir desse momento, enfrentava tempo, cansaço, frio, chuva, por aquela hora com ela.
Era a hora mais feliz dos seus dias.

Aquela noite seria especial.
Enquanto esperava ansioso que ela aparecesse do outro lado da rua e iluminasse a sua existência, tentava encontrar as palavras certas. Ele ia dizer-lhe o quanto gostava dela, o quanto a queria. Porém , os nervos atraiçoavam-no e as palavras pareciam enrolar-se na boca e nada saía. Tinha medo que aquela noite se transformasse na pior noite da vida dele.

Ela apareceu, finalmente.
E ao vê-la, sentiu a alma cair-lhe aos pés.
Bela e etérea, atravessou a rua e aproximou-se com um sorriso que lhe aqueceu o coração.
Estendeu-lhe a mão, acariciou-lhe o cabelo e disse com voz trémula que tinha algo para lhe dizer... Mas as palavras não saíam, os olhos não se conseguiam despregar do chão e o suor começava a cair da testa.
Ela somente olhou-o, com calma e afastou-lhe o cabelo da cara.
Beijou-lhe a face e disse: «Eu também gosto de ti!»

Assim, de repente, a rua escura inundada pela chuva e fustigada pela vento, era um prado verde e luminoso, onde as flores e o Amor desabrochavam.

2 Comments:

Blogger Nuno said...

Quem espera sempre alcança e um sorriso vale tudo.

10:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pela forma que escreves, já nos habituaste a grandes textos. Pelo que nada mais acrescento.

Pela sensibilidade que o texto transmite. Só uma palavra...

"""Fenomenal"""

Assin: Arthe

12:20 da manhã  

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