Ele sentava-se sempre no canto da mesa, aconchegado contra a parede e atento às conversas.
De vez quando abandonava os seus pensamentos e participava na conversa animada que reinava na mesa do café e dizia as piadas de que todos se riam. Inclusivé ela. Não conseguia resistir a admirá-la, mesmo que discretamente.
Tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Bastava esticar-lhe a mão e tocaria na dela.
Quando conversa fugiu ao seu rumo, encostou a cabeça à parede e observava-a. Das piadas dela todos se riam, não por ser bonita, mas porque realmente tinha piada. E quando ria, uma aura luminosa levantava-se em seu redor, inclinava a cabeça para trás, o cabelo dourado cai-lhe pelas costas e sorria muito. Muito mesmo. Ele ficava deliciado a vê-la rir.
Por isso ele gostava de a fazer rir, de conversar com ela de ter a atenção dela só para ele. E contemplava-a, aproveitava aqueles instantes em que ela era só dele, em que a atenção dela era só para ele. E disso vivia, porque nada mais podia ter. Eram esses instantes em que trocavam ideias e risos em que o mundo dele se alegrava, o tempo voava e o espaço não tinha fim.
Bastava os seus olhos encontrarem os dela, ele sorria e ela timidamente retribuía.
No fim daquelas horas no café que para ele pareciam segundos, a tristeza abatia-se e tudo parecia sem sentido. Ela não estava mais ali, para fazer florir-lhe a alma com a sua atenção e simpatia. E disso ele sabia que não podia passar, de horas banais no café passadas a conversar. Ela estava distante demais, o coração entregue a outra pessoa. Ele contentava-se com a sua presença e com fazê-la rir, porque aí tinha toda a sua atenção. Toda só para ele.
O tempo passava e a dor aumentava.
As horas de conversa no café já não chegavam e a tristeza era insuportável quando ela partia, tudo perdia a piada, já não lhe apetecia conversar nem dizer piadas, já não estava ali a sua espectadora favorita, a quem ele devotava toda a sua alma e coração. Os dias entre aquelas horas do café pareciam mais longos e intermináveis... Imaginava-a no seu dia-a-dia, se alguma vez se lembraria dele e ambicionava que aquelas horas no café pudessem ser a sós e que os olhos dele deixassem transparecer tudo...
Todavia, o tempo continuava a passar, os dias ainda eram longos e as horas no café curtas demais... Conformou-se com o tempo com ela, algum dia a sua vez haveria de chegar, em que o sorriso dela fosse só para ele. Até lá, continuou a fazê-la rir e a deliciar-se com a sua alegria.
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