domingo, junho 27, 2004

«- Não voltes!»

Pediu ele com voz forte.
Determinado, virou-lhe as costas. A porta fechou-se e o mundo dela morrera.
E agora?

Sózinha, sem ninguém, deambulou pelas ruas. Os olhos rasados de lágrimas, as forças a esvanecerem-se e no seu coração a dor de um amor que acabara sem sentido. Se a amava, porque não acreditara nela? Não lhe bastaria a sua palavra de que o que os outros diziam era mentira? De que ela e aquela criança tinham sido sempre dele?

Encostou-se a uma esquina e acariciou o ventre.
Aquele criança, por maldade alheia, iria nascer sem o calor do pai. E ao ter pela primeira vez consciência plena disso, a dor trespassou-a... primeiro de fininho, depois com uma avalanche enorme que lhe destroçou a alma. Ajoelhou-se num canto de uma rua agitada e chourou baixinho, esperando que o mundo se esquecesse dela e da sua criança.

Não sabe quanto tempo esteve ali.
Apenas sabia que tinha digerido toda a dor do abandono e toda a desgraça daquela criança que já amava de forma tão profunda.
Levantou-se de cabeça erguida e caminhou decidida.
Se a maldade das pessoas a afastara do seu amor e pai daquela criança, se ele não a soube amar, só lhe restava seguir em frente. Era ele quem perdera, o amor de uma mulher e um amor de um filho.

Voltou para a sua terra, que deixara há tanto tempo para seguir aquele homem.
Trabalhava de dia, e de noite, naquelas horas sózinhas, um rosto invadia os seus pensamentos e a lembrança de horas felizes a acompanhavam sempre. As lágrimas testemunhavam sempre o seu acordar. E dentro dela, a criança crescia.

O tempo foi passando mas a dor daquela injustiça nunca a abandonou.
O momento do parto foi-se aproximando e a sua tristeza agudizou-se por saber que ele não estaria lá para dar as boas-vindas ao seu filho. Seu filho. Ele rejeitara-o mas era seu filho.

O dia chegou.
O dia em que o seu filho ia nascer, transbordava de felicidade, nada mais era importante. Era um augúrio de novos tempos, o sofrimento ficaria para trás, agora era uma nova vida que batia à porta.
Entrou para a sala de partos com um sorriso iluminado.

Passavam horas e tudo se complicava.
Parecia que a criança não queria nascer e as forças estavam a chegar ao fim.
Cesariana era impossível e os médicos desesperavam... Agarrando-se às poucas forças que lhe restavam, tentou mais uma vez...

Enquanto tentava a todo custo que o seu filho viesse ao mundo, um rosto familiar surgiu-lhe no meio daquela confusão de batas verdes e luzes brancas.
Era um rosto de um homem.
De um homem que chorava e de um rosto marcado pelo sofrimento.
A visão turva não lhe permitia ver quem era mas no seu íntimo reconheceu-o.
Ao longe, ouviu a sua voz familiar:

«- Desculpa-me, desculpa-me! Não sei o que me deu para não acreditar em ti. Só pode ter sido o ciúme... Nada do que fizer pode esquecer a dor por que te fiz passar mas eu amo-te e quero ficar contigo e com o bébé, perdoas-me?»

O seu «sim» murmurado foi abafado pelo choro da criança que acabara de nascer.
De repente, tudo se agitou à sua volta, um barulho infernal de gritos e aparelhos...
Concentrou-se no choro da criança que colocaram no seu peito, que acariciava com a mão.
Do outro lado, ele agarrava-lhe a mão tremendo, e pedia-lhe para não ir.
Fechou os olhos e a última coisa que ouviu foi o choro do seu bébé e um grito desesperado...

BASEADO NUMA HISTÓRIA VERDADEIRA...