Ela entrou apressada no metro, mesmo antes das portas fecharem.
Olhou em volta e sentou-se no primeiro assento vago, entre uma velhota a ler a Bíblia e um indiano a cantarolar. Encolhida, olhou para o mapa das linhas de metro, e como não era habitué , custou-lhe a decifrar aquelas linhas e pontos todos.
" Hei-de dar com aquilo!", pensou.
Primeira paragem.
O indiano levantou-se a cantarolar, emebebido no seu próprio mundo. Ela aconchegou-se no assento, liberta daquele aperto. Respirou fundo, olhou para porta, "Mas quando é que isto parte ?" e ele entrou. Calmamente, sem pressa, ajeitou o nó da gravata e percorreu o olhar pela carruagem. Só havia um lugar livre. Sentou-se ao pé dela.
Ela viu-o aproximar-se e voltou a encolher-se "Lá vou eu de novo apertada!". Ele sentou-se descontraidamente, ajeitando os punhos da camisa impecável e olhando para o relógio sem preocupação. Marcava 15h16. Ela recostou a cabeça... e de repente um imagem invadiu-lhe o cérebro! Ela já tinha visto aquele ajeitar de punhos! E com ar surpreso encarou o perfil do homem que estava a seu lado, relaxado, embalado pelos movimentos enérgicos do metro. Fitou o cabelo preto e liso e reconheceu-o... Admirada, contemplou os lábios entreabertos e com ainda mais supresa conheceu aquele mordiscar de lábios... O coração dela disparou quando se lembrou daquela mão a levar o cabelo para trás... E o perfume, ah!, o perfume era tão familiar...!
Ele tentava mostrar-se descontraído.
Por dentro fervia.
Era ela.
Reconheceu-a assim que entrou na carruagem, e a imagem dela captou a sua atenção com um baque no coração e um murro no estômago. Conheceu o cabelo castanho claro, caído pelos ombros, os olhos verdes amendoados, as mãos nervosas e inquietas e os doces lábios rosados... Só havia um lugar e era mesmo ao lado dela.
Sentou-se, tentando mostrar descontracção mas por dentro estava em ebulição.
Enquanto o metro andava, ela reconhecia-o em cada movimento, em cada respiração, em cada trejeito. Encarava-o directamente e ele parecia não ligar, continuava ali esperando algo que nem ele sabia o quê...
Ele observava-a pelo canto do olho. Os olhos ansiosos, a boca ofegante, o peito alvo e irrequieto... Era ela, sim, reconheceu-a e não sabia como lhe dizer.
O metro parou na estação final.
A travagem acordou-a do sonho onde o recordava.
Ele mostrou-se impaciente.
Todos os passageiros se levantaram.
Ela continuava pregada ao assento, reconhecendo-o em cada olhar.
Ele encarou-a por fim. Sorriu-lhe timidamente, a respiração aumentou, a gravata parecia um sufoco, tudo parecia andar à roda... As portas iam-se fechar e ele num ímpeto agarrou-lhe mão e puxou-a para o cais de embarque.
Frente a frente, olharam-se demoradamente.
E nos olhares intensos, reconheceram-se mutuamente.
Nas mãos apertadas, lembraram abraços antigos.
Na respiração acelerada, os beijos perdidos.
Naquele instante, nada mais havia, nada mais importava.
Ela estava ali.
Ele tinha vindo finalmente ao seu encontro.
No meio dos passageiros que invadiam a gare, trocaram promessas de felicidade e juras de nunca mais se separarem em silêncio. Nada os perturbava.
Novo comboio chegou. Ela tinha mesmo de ir.
Uma lágrima calada correu-lhe pela face.
Um suspiro de dor apertava-lhe a garganta entalada pela gravata.
Já o comboio anunciava a partida quando ele lhe largou a mão. Ela correu e entrou mesmo a tempo de as portas se fecharem. Colou as mãos no vidro e pela boca muda lhe disse "Nunca te irei perder, não mais te deixo ir!". E o comboio partiu.
Durante semanas andaram naquela mesma linha de metro na esperança de se reencontrarem.
Ela sempre na expectativa de ver aquele cabelo negro e liso em cada escada do metro. Ele varrendo o olhar em todas as carruagens esperando vê-la.
Andaram semanas nesta ansiedade... Com o tempo, a saudade foi diminuindo e a lembrança apagando-se lentamente...
E em poucos meses, foram-se esquecendo um do outro, até que numa nova vida o Destino os juntasse outra vez.
3 Comments:
Atão mas....mas... nem quiz saber nada dela? Tanta coisa e não se lembrou de pedir um nº ?
Quer um quer outro...
It was not meant to be...
por vezes existe instantes em ke milagres acontecem. Nós temos é de saber aproveitar esses momentos pois estes podem ter influencia em toda a nossa vida, exeistem instantes ke nos deixam feridas dificeis de apagar.
estou a adorar o teu blog, Parabens escreves muito bem:)
Obrigada sabinum, continua a visitar ;)
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